Bolsonaro na ONU: De volta ao século XVIII

Política

BOLSONARO NA ONU: DE VOLTA AO SÉCULO XVIII

Por Raimundo Nogueira*

Um dos assuntos mais comentados da semana foi, sem dúvida, o discurso do presidente Jair Bolsonaro na abertura anual dos debates na assembleia geral da ONU.
Entre os temas abordados, o presidente expôs em linhas simples, mas bastante inequívoca, a política indigenista de seu governo. Segundo ele, “é preciso entender que nossos nativos são seres humanos, [...] que merecem usufruir dos mesmos direitos”, de modo que devem ser integrados à sociedade nacional.
É a chama política integracionista aplicada desde os tempos colônias e formulada de maneira sofisticada em 1757, pelo famigerado Marques de Pombal, cuja finalidade era, como pretende agora o presidente, “libertar” os indígenas de sua “inculta” língua, de seus “bárbaros” costumes e de seus “abomináveis” cultos religiosos, além de obriga-los a se vestirem e habitarem no padrão europeu.
Essa pretensão, que se estriba na infeliz ideia de superioridade étnica e cultural europeia, assumida agora pela elite nacional, expressa uma atitude arrogante - de não reconhecimento do outro – e constitui afronta à Constituição Federal de 1988, que assegura aos povos indígenas uma política INTERACIONISTA ao enunciar que “são reconhecidos aos índios sua organização social, costumes, línguas, crenças e tradições”.
Anunciada como se fosse a última novidade em antropologia, a proposta do presidente para a questão indígena consiste em reanimar o cadáver mumificado da política da integração, hoje abandona pelas nações desenvolvida, como o Canadá, por exemplo.
Assim, o discurso de Bolsonaro na Assembleia Geral da ONU ecoou como uma melancólica e surreal volta ao passado.

Raimundo Nogueira, advogado e professor, escreve aos sábados para o Portal do Ozy

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