No interior do Amazonas, noiva indígena dá à luz e casamento é feito em casa


No interior do Amazonas, noiva indígena dá à luz e casamento é feito em casa
Jane e Admilson, da etnia Tikuna, deveriam participar de casamento coletivo indígena; parto impediu casal de se deslocar ao evento

Se a montanha não vai a Maomé, Maomé vai até a montanha. O ditado popular pode ser clichê, mas representa o que casais indígenas do município de Benjamin Constant viveram nessa quarta-feira (12/02). Dois casamentos civis foram celebrados na casa dos noivos, na comunidade Porto Alegre, por causa da impossibilidade das mulheres se deslocarem para uma das cerimônias do casamento coletivo que acontecem na cidade a 1.121 quilômetros de Manaus.

Jane Lázaro Inácio Ticuna, de 21 anos, deu à luz seu terceiro filho quando faltavam sete horas para o início da celebração em que estava previsto o casamento dela com Admilson Bibiano Pedro, 22, na comunidade Feijoal, localizada a 15 minutos de lancha do local onde vivem e a cerca de uma hora da sede do município. “Eu mandei recado, e o cacique avisou”, contou Admilson, que ficou preocupado com a chance de não oficializar o matrimônio.

Uma equipe da Defensoria Pública do Estado (DPE-AM), que organiza o casamento coletivo em parceria com a Fundação Nacional do Índio (Funai) e outros órgãos, foi para a casa dos noivos junto com a juíza Luiziana Teles Feitosa Anacleto. Com a ajuda de um intérprete da etnia Tikuna, o casamento aconteceu no quarto dos noivos, onde o filho mais novo do casal, ainda sem nome, havia nascido horas antes.

Durante a cerimônia, Jane, que se recuperava do parto, permaneceu sentada no chão. Admilson vestiu um terno e permaneceu ao lado da noiva rodeada pelos outros dois filhos.


“Como magistrada, sinto-me honrada em poder participar desse evento tão sublime e grandioso, um verdadeiro ato de cidadania. Sair do ambiente forense, atravessar os rios do Amazonas é uma experiência ímpar e reafirma o respeito que o Poder Judiciário nutre pelos povos indígenas, o reconhecimento de suas crenças e contribui para o consolidação do estado democrático e pluriétnico”, afirmou a juíza.



FOTOS: Divulgação/DPE-AM

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